sábado, 26 de dezembro de 2009

adiamento

Adiamento









Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...


Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,


E assim será possível; mas hoje não...


Não, hoje nada; hoje não posso.


A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,


O sono da minha vida real, intercalado,


O cansaço antecipado e infinito,


Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...


Esta espécie de alma...


Só depois de amanhã...


Hoje quero preparar-me,


Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...


Ele é que é decisivo.


Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...


Amanhã é o dia dos planos.


Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;


Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...


Tenho vontade de chorar,


Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...






Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.


Só depois de amanhã...


Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.


Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...


Depois de amanhã serei outro,


A minha vida triunfar-se-á,


Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático


Serão convocadas por um edital...


Mas por um edital de amanhã...


Hoje quero dormir, redigirei amanhã...


Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?


Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,


Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...


Antes, não...


Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.


Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.


Só depois de amanhã...


Tenho sono como o frio de um cão vadio.


Tenho muito sono.


Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...


Sim, talvez só depois de amanhã...






O porvir...


Sim, o porvir...














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